SILVIA VELLUDO / AUTORRETRATO COM IPHONE 5C

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galeria marcelo guarnieri | são paulo

abertura/opening
02.09.2016 / 17h – 22h
September 02, 2016 / 5 – 10pm

período de visitação/exhibition
02.09 – 15.10.2016


Alameda Lorena, 1966
São Paulo – Brasil
[ mapa/map ]


Silvia Velludo / Autorretrato com iPhone 5c
por Douglas de Freitas

Com os avanços da tecnologia a circulação de imagens nunca esteve tão presente como nos dias de hoje. Com uma câmera acoplada ao aparelho de telefone celular, qualquer um, profissional ou não, tem a possibilidade de realizar imagens que refletem o tempo e o momento em que vivemos. Junto com essa possibilidade, novas formas de se expressar, e de se comunicar também surgem, como no caso da tão popular selfie, uma forma de registro digital a partir de uma foto de si mesmo, um autorretrato com o celular, onde o corpo além de ser o objeto retratado, é também suporte para a câmera. Usando de um anteparo reflexivo, normalmente um espelho, para conseguir captar sua própria imagem, o aparelho torna-se sempre presente na fotografia, um objeto estranho, uma câmera apontada para quem a observa.

Em sua primeira individual na Galeria Marcelo Guarnieri – São Paulo, Autorretrato com iPhone 5c, a artista Silvia Velludo parte de um olhar sobre essa ação banal, o selfie, que já faz parte do nosso cotidiano. Sua pesquisa toma como ponto de partida retratos de si mesma em diferentes lugares com o uso da câmera de celular. Depois de captadas, essas imagens são usadas para dar início às pinturas, estabelecendo uma convergência entre as linguagens, um ruído de tempos, um estranhamento.

A presença da pintura na produção de Silvia é uma constante. Trabalhos anteriores usam outros suportes e técnicas como colagem, fotografia e escultura, mas sua construção final está sempre ligada à questões da pintura. A fragmentação, ou uma desconstrução da imagem, sempre esteve presente em suas obras. Agora a artista parte de um universo fragmentado de várias imagens para construir esse retrato. Muito mais que uma simples transcrição de uma foto, suas pinturas estão carregadas da memória e da percepção dos locais e situações, são imagens adulteradas para revelar o que a fotografia não faz ver.

Velludo parte do gênero retrato, faz uma atualização do autorretrato tão importante na história da arte, e principalmente na história da pintura como ofício da arte, na afirmação de identidade do artista. Nessa atualização, Silvia nos coloca diante de uma imagem enigmática. Ao percorrer espaços, revela ambientes domésticos ou situações urbanas onde a paisagem da cidade surge, na busca obsessiva do melhor registro de si.

Esse melhor registro, não quer dizer o seu melhor reflexo, nem seu melhor ângulo ou forma bela de ser retratada, seu interesse está diretamente relacionado a forma como nos relacionamos com as coisas e com o mundo. São seus reflexos não apenas em espelhos, mas em laminados, retrovisores, frisos cromados, vitrines ou até mesmo em objetos, como uma colher, em muitas imagens, o retrato é mera desculpa para desvendar uma situação ao seu redor.

Nessa reflexão sobre a história da arte, uma de suas obras explicita tal operação. A artista surge ao lado de uma escultura clássica no Museu do Louvre, em Paris. É um comentário da própria história, que agora está ressignificada através dessas imagens multifacetadas, do cruzamento de linguagens, e da maneira como a artista enxerga e nos apresenta o mundo.

Agosto, 2016


Silvia Velludo / Self-portrait with iPhone 5c
by Douglas de Freitas.

Due to the advances in technology, the circulation of images has never been so common like nowadays. With a camera connected to the cell phone device, anyone, professional or not, has the possibility of creating images that reflect the time and the moment we live. Along with this possibility, new ways of expressing and communicating also emerge, as the case of the popular selfie, a form of digital memory through a picture of yourself, a self-portrait with the cellphone, in which the body, besides being the portrayed object, is the camera support as well. Using a reflective prop, normally a mirror, to be able to capture your own image, the device becomes ever-present in the photography, a camera pointed to whom observes it.

In her first solo exhibition at Galeria Marcelo Guarnieri – São Paulo, Self-portrait with iPhone 5c, the artist Silvia Velludo starts off on a look at this banal action, the selfie, which has already become part of our everyday routine. Her quest takes as a starting point the portraits of herself taken with the cellphone camera in different places. After captured, these images are used to initiate the paintings, establishing a convergence between the languages, a noise of time, a strangeness.

The presence of the painting in Silvia’s production is a constant. Earlier works use different medium and techniques, for instance, collage, photography and sculpture, but her final construction always relates to painting. The fragmentation, or an image deconstruction, has always been present in her works. Now, the artist starts off a shattered universe composed by many images in order to set up this portrait. Far from a simple transcription of a photo, her paintings are loaded with the memory and the perception of places and situations; they are adulterated to reveal what the photography does not show.

Velludo’s work is based upon portrait painting genre, she makes an update of self-portrait, so important in the History of Art and, mainly, in the history of painting as Art, in the assertion of the artist’s identity. In this revision, Silvia places us in front of an enigmatic image. As she goes through spaces, reveals domestic environments or urban situations where the city’s landscape appears in the obsessive search for the best capture of herself.

This best capture does not mean her best reflection, neither her best angle, nor more beautiful way of being portrayed. Her interest is directly related to the way we relate to things and to the world. The subject are her reflections, not only in mirrors, but also in veneers, rearview mirrors, stainless steel, shop windows, or even in objects, such as a spoon. In many images, the portrait is a mere excuse to unveil the surrounding situation.

In this consideration about the History of Art, one of her works clarifies such operation. The artist appears next to a classic sculpture at the Louvre Museum, in Paris. It is a comment of the history itself, which now acquire another meaning through these multifaceted images, the language crossings, and the way the artist sees and presents the world to us.

August, 2016


Silvia Velludo / Autorretrato com iPhone 5c
por Silvia Velludo

Como se começa um texto?
Como se começa uma pintura?
Por que se desencadeia uma série?
O que nos move para fazer isso ou aquilo?
Por que se repara nisto e não naquilo?

Quando se deixa de ser criança?

Aprende-se a se reconhecer em espelhos
Nos rememoramos em imagens fotográficas
O fato é que só nos vemos enquanto imagem
Enquanto todas as outras pessoas do mundo existem fisicamente para nós
E nessa conjectura vem sempre junto um recorte
Assim se dá nossa dita: identidade

Através de superfícies reflexivas espalhadas por infinitos espaços, nossa imagem se escancara a nos reportar a nós mesmos
Hoje podemos nos reportar ainda mais alongando a possibilidade de nos flagrarmos munidos de um pequeno dispositivo de captura altamente portátil
Imagem instantânea que só poderá ser revista dentro de um outro aparelho, que logo será trocado por outro e por outro, a se perder no tempo

Quando me flagrei num grande espelho de um banheiro preto, onde me via de corpo inteiro com um casaco também preto, veio-me uma revelação num súbito
E como estava aparelhada com um iPhone 5c, me postei para registrar aquela imagem
Daí, me fartei da minha imagem em outros banheiros variados em viagens variadas
Foi desencadeada a compulsão também em qualquer outra superfície reflexiva onde dava-se o espanto
Junto, a lembrança de desde sempre esse espanto
Diante de laminados, retrovisores, inox, vitrines… colheres
Frisos cromados me levavam a outros mundos, livre

Em trânsito, se apresentam sempre muito rápidas essas aparições
Como fumaça o entorno se perde, tal a importância de se ver em ação
Um recorte fugaz ronda o contorno que te representa
E esses aparelhos incríveis vem te dar a possibilidade de você se ver sujeito em uma cena que, logo se fará rarefeita
Necessito guardar esse entorno, os objetos de cena, para os reorganizar

Daí a começar a pintar foram outros 500
Refazendo o fundo de uma tela, ensaiei, ensaiei, até começar a tela do banheiro preto que chamo de Perpétua (rs)
Já colecionava pigmentos sem saber o que iria fazer com eles. Uma atração incontrolável
Começou então o meu algoz
Começar a pintar depois de anos trabalhando com outros materiais e mídias

Não sei porque preciso sempre fazer séries
Algumas coisas mudam ao longo do processo
Nesta, os objetos de cena se tornaram mais relevantes do que minha imagem em muitas das telas
Adoro quando encontro algo escondido em uma imagem que possa ser revelado como fundamental

Hoje sinto a pintura como uma entidade, como a literatura…
O ato de pintar te remete invariavelmente à história da arte que você absorveu
Os pintores que se tem na mais alta conta são lembrados num traço, num átimo…
Pinto para ressignificar e principalmente para ficar pintando
Para ficar nesse lugar
Para reconhecer instâncias

Embrenhados nessa mágica, a destravar as impossibilidades, todos que se aventuraram a se retratar se valeram também de uma imagem de si

Pintando a imagem de si chora-se a própria morte
Pinta-se a ausência
Um não estar
Um buraco

Penso que os espectadores que por ventura se virem diante das telas maiores poderão, de alguma forma, se sentirem no meu lugar

E nas telas menores é necessária uma aproximação para desvendar a cena, o que tangencia uma intimidade

O nome do aparelho: iPhone 5c, é uma marca que situa um tempo como qualquer objeto

P.S.
Imagens são necessariamente forjadas

Agosto, 2016


Silvia Velludo / Self-portrait with iPhone 5c
by Silvia Velludo

How do we start a text?
How do we start a painting?
Why do we unleash a series?
What motivates us to do this or that?
Why do we notice this instead of that?

When do we give up of being a child?

We learn to recognize ourselves in mirrors
We recall ourselves in photographic images
The fact is that we only see ourselves as images
While everybody else in the world physically exists for us
And, in this assumption, a clipping always comes together
Thus, takes place our so-called: identity

Through reflective surfaces scattered on endless spaces, our image widens in taking us back to ourselves
Today we can take ourselves back even more extending the possibility of being caught equipped with a highly portable tiny shooting device
Snapshot that will be able to be seen again only inside of another device, which soon will be replaced by other, and other, and so on

When I caught myself in front of a big mirror in a black bathroom, where I saw my full body also in a black coat, a revelation came suddenly
And once I was equipped with an iPhone 5c, I stood up to register that image
Then, I got plenty of my image in other different bathrooms, different trips
The compulsion was unleashed in any other reflective surface where the astonishment has taken place
Together, the memory of this astonishment since always
In front of veneers, rearview mirrors, stainless steel, shop windows… spoons
Chromed trims has taken me to other worlds, free

In transit, these appearances are always very fast
Like smoke, the surroundings go out, such is the importance of being seen in action
A fleeting clipping surrounds the outline that depicts you
And these awesome devices come to give you the possibility of seeing yourself as subject in a scene that will fade soon
I need to keep these surroundings, the scene objects, in order to rearrange them

From that to start painting, it was a whole new ball game
Redoing the background of a canvas, I prepared, prepared, till I started the canvas of the black bathroom which I call Perpétua (lol)
I have already collected pigments without knowing what I was going to do with them. An uncontrollable attraction.
Then my torturer emerged
To start painting after years working with different materials and medium

I don’t know why I always need to make series
Some things change during the process
In this one, the scene objects have become more relevant than my own image in many of the canvases
I love when I find hidden in an image something that can be revealed as essential

Today I feel painting as an entity, like literature
The act of painting invariably refers to the history of the art u absorbed
The most highly estimated painters are remembered by a stroke, by a trice…
I paint to reframe and mainly to stay painting
To stay in this place
To recognize instances

Embroiled in this magic, unlocking the impossibilities
Everyone who have risked self-portraying also made use of an image of themselves
In painting our own image we cry our own death
The lack is painted
A non-being
A hole

I think the spectators, which by chance see themselves in front of the bigger canvases, somehow will be able to be on my shoes

And at the smaller canvases it is necessary to get closer to unveil the scene, an act that borders on intimacy

The device’s name: iPhone 5c, it is a brand that marks an age as any other object

P.S.
Images are necessarily made up

August, 2016

gmc_aliceshintaniSILVIA VELLUDO / AUTORRETRATO COM IPHONE 5C