Renato Rios | Canções de um novo dia
galeria marcelo guarnieri | ribeirão preto
abertura
09 de outubro, 2021
15h às 19h
período de visitação
09.10 – 12.11.2021
rua nélio guimarães, 1290
ribeirão preto – sp – brasil / 14025 290
[ mapa ]
Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e de serem breves
— Sophia de Mello Breyner Andresen, em “Coral e Outros Poemas”
Nos últimos anos, Renato Rios (Brasília, 1989) tem explorado, em suas telas figurativas, questões simbólicas e da natureza da representação. Esses trabalhos contemplam “um aspecto universal do homem, não o particular, trabalhando através de sua pintura na manutenção de um tempo e um espaço míticos, originários, arcaicos, buscando uma possível reaproximação com a origem das coisas” — como sugeriu o pintor e professor Paulo Pasta, de quem é assistente desde 2017.
Para a exposição atual, “Canções de um Novo Dia”, Renato apresenta suas já icônicas pinturas de estrelas e a série “Limiar”, de 2020. As figuras e o aspecto místico dão mais espaço à cor – elemento sempre presente em seu trabalho –, que agora deixou de ser coadjuvante para se tornar protagonista. Também faz parte da mostra uma série batizada de “As Horas”.
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A composição dessas telas, já recorrente em sua obra, surgiu pela primeira vez em 2017. O desenho remete a uma fresta, um recuo, uma bandeira ou um outro plano – e aparece repetidamente em dípticos, trípticos e quartetos. A ideia inicial do artista em “As Horas” era uma série com 24 telas, uma para cada hora do dia. Meia-noite seria uma relação de azul sobre azul, e meio-dia, de branco sobre branco. As variações de cor refletiriam a passagem do tempo, como numa queda gradativa da luz. O plano de seguir essa lógica acabou por se desdobrar em outras possibilidades. Ao ampliar sua paleta, o artista começa a investigar a criação do espaço através da cor. Figura e fundo se ajustam constantemente, respondendo aos tons em seu entorno.
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Um dos dípticos da exposição faz referência às cores presentes em “Lição de Piano”, pintura de 1916 assinada por Henri Matisse. Apesar de ter acontecido ao acaso, a homenagem aparece para além da cor. A composição do pintor francês sugere frestas triangulares e outros espaços que se abrem no plano. A tela também mostra que Matisse pensava sobre a passagem do tempo — retrata seu filho mais novo, Pierre, durante uma aula de piano. Essa ideia é o tema central, sugerido não só no que está em cima do instrumento — uma vela queimando e um metrônomo —, mas também no rosto do menino, que reflete este último objeto. Em sessões de trabalho mais intermitentes, por conta da chegada de mais um bebê na família e da pouca idade de sua primeira filha, Renato se viu também refletindo sobre a relatividade do tempo em suas idas ao ateliê, “o que cabe em uma hora?”
Em teorias contemporâneas, a relatividade da cor continua a ser tema, como já era o caso no seminal “Interaction of Color”, de Josef Albers, de 1961. A artista americana Amy Sillman, por sua vez, em seu texto “On Color”, garante estar “mais interessada na cor como motor de mudança contínua e metamorfose do que como uma teoria estática”. Em suas telas, Renato evidencia esse caráter de impermanência e vulnerabilidade, já que, como diz, “cada cor é modificada em função do equilíbrio com seus pares”.
Como num acorde, tempo, espaço e cor são tocados juntos nas pinturas de Renato. E, mesmo que por um breve instante, o mundo se alinha.
Gisela Gueiros
Setembro 2021
Renato Rios
1989 – Brasília, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil
Formado em artes plásticas pela UnB, Renato Rios vem explorando, por meio da pintura, as relações entre a imagem e as narrativas do inconsciente. Entendendo a prática da pintura como um lugar de investigação das relações simbólicas, o artista convoca imagens de origens diversas e as combina, na mesma tela ou em conjuntos de dípticos, trípticos e polípticos, a fim de desenvolver uma espécie de escrita poética. Ao articular elementos visuais e dispensar o uso de palavras, Rios busca estabelecer uma comunicação de sentido mais aberto, estimulando o espectador a organizar suas próprias relações entre os elementos. Essa ação, no entanto, é guiada pelas referências que o artista nos apresenta: fragmentos de pinturas metafísicas, representações de ambientes domésticos, formas geométricas que ora nos remetem a composições suprematistas, ora a símbolos e espaços sagrados. Renato Rios se aproxima da lógica das tradições oraculares, em que o sentido do jogo é dado pela combinação entre os elementos apresentados, para explorar as possibilidades das interpretações poéticas de seus jogos de pinturas.
Em 2018 Rios apresentou a individual “Arquétipos”, no Espaço Breu, São Paulo, Brasil e integrou a exposição coletiva “OndeAndaOnda” que passou pelo Espaço Cultural Renato Russo, Brasília em 2018 e Museu Nacional Honestino Guimarães, Brasília em 2017 e 2015, com curadoria de Wagner Barja. Em 2016 foi um dos artistas selecionados para a residência artística da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e em 2011 ganhou o Prêmio de Arte Contemporânea Espaço Piloto (UnB).