MAUREEN BISILLIAT | PERSPECTIVAS E ECOLINES



MAUREEN BISILLIAT
PERSPECTIVAS E ECOLINES


galeria marcelo guarnieri | ribeirão preto

abertura
01 de abril, 2022

período de visitação
01.04 – 13.05.2022



rua nélio guimarães, 1290
ribeirão preto – sp – brasil / 14025 290
[ mapa ]


A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar a primeira mostra da fotógrafa Maureen Bisilliat em nossa unidade de Ribeirão Preto. Em agosto de 2020 a artista realizava a sua primeira exposição com a galeria em nossa unidade de São Paulo, apresentando pela primeira vez sua série “Ecolines” (1960-2020). Dois anos depois, o público de Ribeirão Preto terá a oportunidade de ver as obras dessa mesma série, além de um conjunto de fotografias de seu novo trabalho “Perspectivas” (2021).

Na série “Ecolines”, Bisilliat apresenta fotografias feitas na década de 1960 em viagens pelo Brasil posteriormente modificadas por intervenções feitas com tinta Ecoline. O processo consistia em ampliar as fotografias em preto e branco e “tintá-las” através de um método intuitivo, retomando a prática de pintura que desenvolvia em suas aulas no Arts Students League, durante a década de 1950 em Nova York. As fotografias, que ficaram em pausa durante sessenta anos nos arquivos da artista, foram reencontradas em 2019 e passaram por uma série de processos antes de se apresentarem como se vêem na exposição. Elas foram digitalizadas, impressas em tamanho reduzido, fotografadas novamente e finalmente impressas em uma escala maior à que originalmente havia sido ampliada. 

Essas “tintagens” e “refotografias” acabam produzindo ambiguidades na estrutura da imagem enquanto tal: entre os elementos da composição – pelo jogo de luz e cores –, assim como entre o limite da imagem como superfície e como objeto, remetendo à materialidade da fotografia analógica. Para Bisilliat, tais processos, posteriores ao registro fotográfico, constituem um momento particular de reflexão e construção do trabalho, onde se entrecruzam temporalidades múltiplas: “o instante da foto / o tempo do acontecer / a memória do fato / a reinvenção da imagem / os processos editoriais / o cotidiano / o originário / o sem fim…”. Todos esses processos, incluindo a composição dos conjuntos durante a montagem, contaram com o envolvimento de diversas pessoas, que com saberes e maneiras distintas de atuação, foram de fundamental importância para dar origem à nova forma de vida dessas imagens.

Na série “Perspectivas” (2021), Bisilliat dá continuidade ao trabalho de imersão no seu arquivo, resgatando fotografias de outras séries e imprimindo-as em novas configurações. O formato de 32 x 112 cm escolhido pela artista a permitiu experimentar com a composição a partir de duas operações: montando sequências de imagens de uma mesma série ou ocupando um terço do papel com apenas uma fotografia, sendo o restante do espaço dominado pela total ausência de luz. O formato de 32 x 112 cm remete ao da fotografia panorâmica, que permite registrar até 360º de uma paisagem através de capturas de diversos pontos de vista. Embora incorpore em “Perspectivas” (2021) a ideia de uma visão panorâmica, a montagem de Bisilliat não pretende formar uma sequência linear, mas sim uma sobreposição de temporalidades que a permite trabalhar em narrativas de repetições e cortes abruptos. O formato do papel também remete ao do filme fotográfico e a total ausência de luz que ocupa mais da metade do espaço em algumas dessas obras, poderia aludir a uma imagem não revelada da nossa sombria realidade atual. Por meio dessas operações, a fotógrafa coloca em perspectiva o tempo passado da captura da imagem e o tempo presente de suas intervenções, utilizando-se dos contrastes entre luz e sombra, mecanismo estrutural da fotografia, para refletir sobre a opacidade do tempo presente.   

MAUREEN BISILLIAT
PERSPECTIVAS E ECOLINES


galeria marcelo guarnieri | ribeirão preto

opening
April 1, 2022

exhibition
April 1 – May 13, 2022

Nascida na Inglaterra em 1931 e radicada no Brasil, Maureen Bisilliat é responsável por uma investigação fotográfica de mais de cinquenta anos. Viajou intensamente quando criança, uma vida desenraizada que levou à busca de raízes que caracteriza o seu trabalho. Após estudar artes plásticas na França e nos Estados Unidos, estabeleceu-se na cidade de São Paulo na década de 1950, atuando inicialmente como fotojornalista nas revistas Realidade e Quatro Rodas a partir de 1962. Durante os dez anos que trabalhou para a Editora Abril, pôde fotografar em contextos diversos do Brasil, produzindo ensaios que ficaram célebres, dentre eles “Caranguejeiras”, no qual retrata mulheres catadoras de caranguejos na aldeia paraibana de Livramento.

A curiosidade por um Brasil ainda desconhecido durante a década de 1960 se associa ao fascínio por obras literárias brasileiras e resulta em um projeto de longa duração que Bisilliat classificou como de “equivalências fotográficas” com a literatura. Produz, entre as décadas de 1960 e 1990, uma série de livros de fotografias que dialogam com as obras de Jorge Amado, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Ariano Suassuna, Adélia Prado e Euclides da Cunha. Em 1985 expõe em uma sala especial da XVIII Bienal de São Paulo um ensaio baseado no livro “O turista aprendiz” de Mário de Andrade. Na década de 1980, começa a dedicar-se também ao audiovisual, lançando em 1981 o documentário “Xingu/Terra”, filmado com o diretor de fotografia Lúcio Kodato, na aldeia mehináko do Alto Xingu. Foi curadora da Sala Especial XINGU TERRA, instalada na XIII Bienal de São Paulo (1975).

Seu olhar devota uma especial atenção ao ser humano, interesse que pode ser observado na multiplicidade de retratos que compõem a sua obra e no registro das manifestações culturais dos retratados, seja através da vestimenta do homem sertanejo, da pintura corporal da mulher indígena, da rede do pescador ou da fantasia da carnavalesca. A ideia de equivalência que utilizou para definir seu trabalho com a literatura, norteia também a sua prática através da relação de cumplicidade e troca que constrói com aqueles que retrata enquanto filma ou fotografa. “Forma-se uma cumplicidade natural. Eu não gosto da solidão. Não gosto de trabalhar sozinha”, afirma Maureen.

Maureen Bisilliat foi bolsista da Fundação Guggenheim, do CNPq (1981-1987) e da Fapesp (1984-1987). Em 2010 foi vencedora dos prêmios Porto Seguro de Fotografia, Ordem do Ipiranga, Ordem do Mérito Cultural e Ordem do Mérito da Defesa. Em 2020 Bisilliat apresentou na sede de São Paulo do IMS  “Agora ou nunca – Devolução: paisagens audiovisuais de Maureen Bisilliat”, exposição que percorria seu vasto acervo audiovisual, concebida em colaboração com Rachel Rezende. O Instituto é detentor do acervo fotográfico de Bisilliat desde o ano de 2003.

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