HELENA CARVALHOSA
tempo, tempo, tempo, tempo
galeria marcelo guarnieri | ribeirão preto
abertura
28 de maio, 2022
período de visitação
28.05 – 23.07.2022
rua nélio guimarães, 1290
ribeirão preto – sp – brasil / 14025 290
[ mapa ]
A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 28 de maio e 23 de julho, “tempo, tempo, tempo, tempo”, primeira mostra da artista Helena Carvalhosa em nossa unidade de Ribeirão Preto. A exposição reúne pinturas e objetos realizados durante as últimas quatro décadas e compõem um breve panorama de sua carreira. Juntos, esses trabalhos iluminam o mundo interior de Carvalhosa, evidenciando sua atenção pelos assuntos domésticos que caracterizam suas cenas – jarros de flores, cadeiras, garrafas e frutas, os pequenos objetos e as paisagens da janela. O convite a olhar de perto é reforçado por suas assemblages que não ultrapassam a escala do trabalho com as mãos. Formadas por fragmentos de objetos anteriormente utilitários ou decorativos, carregam as marcas de seus usos anteriores e provocam uma apreciação sobre a passagem do tempo.
Desde o final da década de 70, Carvalhosa explora o campo tridimensional por meio de uma investigação sobre as formas e os significados gerados a partir de associações improváveis entre objetos encontrados, tais como potes de vidro, pedaços de madeira, peças de ferro retorcido e molas. O interesse da artista por tais objetos passa não somente pela particularidade de sua composição material e visual, seus significados e usos, mas também pelo vínculo afetivo que possui com cada um deles e com a possibilidade de conservarem histórias. A partir da segunda metade dos anos 1980, Helena Carvalhosa passa a desenvolver um trabalho em pintura, onde explora a ambiguidade das formas a partir da observação do mundo ao seu redor: um universo doméstico e afetivo que se manifesta em paisagens e naturezas mortas.
Helena Carvalhosa nasceu em 1938 em São Paulo, onde vive e trabalha. Iniciou seus estudos em artes na Escola Brasil em 1970 e em 1977 formou-se em Artes Plásticas pela FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado). Ainda no final da década de 1970 estudou na New School of Arts, em Nova York e desde os anos 1980 vem fazendo cursos e sendo orientada por artistas como Hélio Cabral, Nelson Nóbrega, Paulo Pasta e Sara Carone. Sua produção transita entre a pintura, a escultura, o desenho e o objeto.
O início de sua carreira foi marcado pela participação na “Mostra de Escultura Lúdica” em 1979 no MASP, que contou com artistas como Palatnik, Tomie Ohtake, Leon Ferrari e Guto Lacaz. Na ocasião, a artista expôs “Estruturas Mutantes”, duas peças formadas por tecido, ferro e isopor que remetiam à forma de um casulo e que podiam ser vestidas e transformadas pelo público. A escolha por materiais acessíveis, de uso cotidiano, é ampliada em “O objeto reinventado”, exposição que ocorreu no SESC Pompeia em 1992 e que reuniu assemblages formadas por objetos descartados, já gastos por outros usos. Sobre aquela produção de Carvalhosa, o crítico Pietro Maria Bardi escreveu: “Com o máximo de simplicidade, Helena demonstra, através da combinação de formas, que aquilo que está ao nosso redor pode ser motivo de fruição estética”. No ano seguinte participou da coletiva “Objeto. Objeto-Livro. Fotografia” na Pinacoteca de São Paulo. Segundo a crítica Maria Alice Milliet, em texto de 1993: “Os objetos de Helena pertencem ao universo feminino da sedução, do jogo de aproximações que transforma o banal em inédito, do encantamento surpreendido no arranjo das coisas inúteis cuja gratuidade retém um frescor derivado da fantasia. Atestam a possibilidade de criar a partir do encontrável, do desprezível, de restos e sobras.” Em 1998, Carvalhosa retorna à Pinacoteca para ocupar um dos “vãos livres” do edifício com “O Caminho: Instalação com Flores”, composta por móveis antigos, fotos de família, vasos, quadros e peças em porcelana, propondo uma reflexão sobre as fases da vida e a passagem do tempo.
A partir da segunda metade dos anos 1980, desenvolve uma produção em pintura, centrando-se, inicialmente, em paisagens e retratos através de um uso despojado da pincelada. A partir de 2005 dá início à transição de sua pintura para uma abordagem mais sintética da composição, reduzindo a quantidade de elementos e de detalhes em suas paisagens e naturezas mortas. Segundo o jornalista Antonio Gonçalves Filho, as pinturas dessa fase são “quase um diário íntimo sem compromisso com o tempo, como nas composições intimistas de Morandi, feitas de cores sóbrias e perfeito equilíbrio tonal”. Nelas, a artista ainda mantém o seu interesse pelos objetos, agora amalgamando-os, no campo bidimensional, aos outros elementos do quadro, operação que se dá pelo uso da tinta em diferentes cores e texturas. Em texto para o catálogo da exposição “Pulo do Gato”, apresentada no Museu Afro Brasil em 2016, o curador Marcelo Salles escreve: “a artista lida com um fazer que não é orientado por premissas políticas, sociais, mercadológicas; seu interesse reside numa necessidade ancestral, aquela que existia antes de nomearmos todas as coisas e aprisionarmos não somente coisas, mas nós mesmos”.
Em mais de quatro décadas de carreira, participou de inúmeras mostras individuais e coletivas, em instituições como: MASP, SESC Pompeia, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Museu Afro Brasil, SESC Belenzinho e Centro de Arte Dragão do Mar, em Fortaleza. Desenvolveu curadorias para o SESC São Carlos, SESC Santana e Museu da Casa Brasileira. Possui três livros publicados: Fazenda Pinhal; Ócio: obras de Helena e poesia de Manoel de Barros; e Pulo do Gato.