FRANCISCO REBOLO – Viver a paisagem




Francisco Rebolo – Viver a paisagem

Organização 
Instituto Rebolo & Galeria Marcelo Guarnieri

galeria marcelo guarnieri | são paulo

abertura
19 de março, 2022
10h-17h

período de visitação
19 de março – 30 de abril, 2022



Alameda Lorena, 1835
São Paulo – Brasil
[ mapa ]

Francisco Rebolo – Viver a paisagem
por Sergio Rebollo


A Paisagem Cultural
O convite para a realização da exposição sobre o pintor modernista Francisco Rebolo (1902-1980) na Galeria Marcelo Guarnieri não poderia vir em um momento melhor: a comemoração dos seus 120 anos de nascimento em 2022.

Um ano muito particular para as artes, no qual a maioria dos olhares estarão voltados para o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Movimento que não teve a presença de Rebolo, já que ele era muito jovem, filho de imigrantes de origens simples e não circulava na elite econômica da sociedade, cujos membros deram destaque ao movimento. 

Rebolo e seus colegas do Grupo Santa Helena fizeram parte da segunda geração de artistas modernistas, geração que ganhou espaço e visibilidade na metade da década de 1930 e seria fundamental para consolidação da arte moderna em São Paulo e no Brasil.


A Paisagem Ambiental
A temática da preservação e do respeito ao Meio Ambiente, ao lado da questão da desigualdade social e suas mazelas, é certamente uma das grandes urgências do Brasil e do Mundo. 

Quando pensamos na relação entre arte e meio ambiente na atualidade, rapidamente nos lembramos de importantes nomes como Krajcberg, Sebastião Salgado, Eduardo Srur, entre outros. 

É importante perceber que Francisco Rebolo já tinha este tema e essa preocupação em sua essência, desde os anos 1930. Isso fica muito evidente no momento em que ele decide se mudar da área urbana de São Paulo. Afinal, com o crescimento acelerado promovido pela industrialização, a Cidade começava a mudar de uma condição provinciana para um aspecto cosmopolita.

Ao sair da área central para morar no bucólico e intocado bairro do Morumbi, há mais de 80 anos, Rebolo começa a traçar o caminho de se tornar um dos maiores paisagistas da arte brasileira, vivendo intrinsecamente na maior e mais importante fonte de inspiração de toda a sua obra. 


“Francisco Rebolo é o artista que foi morar na paisagem.”
Palavras de sua filha Lisbeth, professora titular de história da arte na ECA – USP e presidente mundial da AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte). Estas são as palavras que inspiraram o conceito desta exposição.

A Paisagem Social e Profissional
Francisco Rebolo Gonzales nasceu no dia 22 de agosto de 1902, em São Paulo, sendo o quinto filho de uma família de espanhóis da Andaluzia que chegou ao Brasil em 1899. Viveu com grande intensidade duas trajetórias. Primeiro como jogador de futebol entre 1917 e 1932, atuando por São Bento, Corinthians e Ypiranga como ponta-direita. Em 1933 voltou-se para o desenho e a pintura o que viria a ser sua atividade por toda a vida.

Uma característica marcante de Rebolo, que se manifestou continuamente ao longo de sua trajetória como artista plástico, foi sua capacidade de organizador da categoria. Logo no início da carreira, em meados da década de 1930, alugou duas salas no imponente Edifício Santa Helena: prédio no centro de São Paulo que dividia as praças Clóvis e da Sé, demolido na década de 1970 para construção do Metrô. Ali montou seu ateliê de pintura de cavalete, utilizando o espaço para atender também sua clientela de pintura ornamental de residências.

Outra curiosidade é a maneira como Rebolo teve seu primeiro contato com as tintas. Aos nove anos de idade o pequeno Francisco testemunhou uma dura discussão entre seus pais em razão da falta de dinheiro. Após refletir sobre a situação, decidiu que tinha que arrumar um trabalho. Saiu na rua, viu uma carroça com tijolos e presumiu: “para onde esta carroça vai, há trabalho”.  Seguiu o veículo e, ao chegar a uma obra, foi conversar com o chefe da construção. Aquele franzino menino não tinha força física para ser pedreiro, por isso foi alocado como ajudante de pintor para acabamentos. Começava a nascer ali o gosto pelas tintas.

Rebolo foi o fundador do célebre Grupo Santa Helena ao agregar no mesmo endereço grandes nomes das artes brasileiras, como Clóvis Graciano, Aldo Bonadei, Alfredo Volpi, Fulvio Penacchi, Mario Zanini e Alfredo Rizzotti, entre outros.

Pouco tempo depois, Rebolo ajudou a organizar salões de arte, colaborando em suas montagens. Foi um dos fundadores do Sindicato dos Artistas e Compositores Musicais, além de ser um dos criadores do Clube dos Artistas e Amigos da Arte (o Clubinho), talvez o primeiro “coletivo” no panorama cultural nacional nos anos 1950 e 1960.

Anos mais tarde, fez parte do grupo que trabalhou para a criação do Museu de Arte Moderna (MAM-SP) e da sua Bienal de São Paulo, onde expôs e foi membro do júri.

Entre os muitos prêmios que recebeu, um dos que mais influenciaram sua carreira foi o “Prêmio de Viagem ao Exterior”, do III Salão de Arte Moderna em 1954, que lhe possibilitou viver  e pesquisar durante dois anos na Europa. Neste período, atuou como restaurador de obras de Rafael no Vaticano e pode desenvolver nova fase em sua obra pictórica, retratando paisagens de vários países europeus.

Em sua volta ao Brasil, iniciou uma nova fase em que pesquisou efeitos de matéria, marcava assim sua maturidade, de alta produtividade e muitas experimentações. Em sua última década de vida nos anos 1970, viajou pelo Brasil pintando e expondo sua obra, que retomou o lirismo  e a sensibilidade que marcaram seu início da carreira.  

Durante toda sua trajetória artística Rebolo foi considerado por grandes críticos, como Sérgio Milliet e Mário de Andrade, como um dos mais importantes paisagistas da pintura nacional. 

Além da consagração como “mestre das paisagens”, sua produção contempla naturezas mortas, flores, retratos e figuras em um total de mais de 3.000 obras entre óleos, desenhos e gravuras. Obras que estão distribuídas nas coleções particulares e nos principais museus do Brasil e do mundo.


Sergio Rebollo, publicitário e administrador, é neto do artista, sócio das agência Pátria e da consultoria RGAE, foi diretor de marketing e vice presidente da AAMAC – Associação de Amigos do Museu de Arte Contemporânea da USP e é Presidente do INSTITUTO REBOLO.

A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 19 de março e 30 de abril de 2022, “Viver a paisagem, primeira exposição das obras de Francisco Rebolo (1902-1980) em nosso endereço de São Paulo. A exposição marca a comemoração dos 120 anos de seu nascimento. 

Viver a paisagem“, organizada em colaboração com o Instituto Rebolo,  reúne cerca de 30 pinturas produzidas entre as décadas de 1940 e 1970 que refletem o interesse do artista por uma integração entre a paisagem, sua obra e seu modo de vida. Nascido e formado em bairros de classe operária imigrante da zona leste de São Paulo, onde se concentravam as atividades fabris do início do século 20, Francisco Rebolo transferiu-se na década de 1940 para o ainda bucólico bairro do Morumbi e ali “começa a traçar o caminho de se tornar um dos maiores paisagistas da arte brasileira, vivendo intrinsecamente na maior e mais importante fonte de inspiração de toda a sua obra”, como afirma Sergio Rebollo. Além das pinturas de paisagens suburbanas, marinhas e naturezas-mortas, a exposição contará com fotografias de arquivo e objetos que fizeram parte do ateliê do artista.  

A vida no então distante Morumbi não impediu Francisco Rebolo de ter uma participação ativa na organização da classe artística em São Paulo. Em meados da década de 1930, ainda dividindo suas funções entre a pintura decorativa e a pintura de cavalete, passa a receber em seu ateliê/escritório no Palacete Santa Helena artistas como Mario Zanini, Alfredo Volpi, Clóvis Graciano, Aldo Bonadei, Fulvio Penacchi e Alfredo Rizzotti. O grupo, que seria batizado pela crítica da época de Grupo Santa Helena, era formado por descendentes de imigrantes de origem popular e operária que traziam com suas telas a imagem de uma modernidade diferente daquela reivindicada pelo grupo de 1922. Preocupados pelos aspectos técnicos e artesanais da pintura, retratavam o cotidiano da São Paulo suburbana. Rebolo foi um dos fundadores do Sindicato dos Artistas e Compositores Musicais, além de ser um dos criadores do Clube dos Artistas e Amigos da Arte (o Clubinho) em 1945. Anos mais tarde, fez parte do grupo que trabalhou para a criação do Museu de Arte Moderna (MAM-SP) e da sua Bienal de São Paulo, onde expôs e foi membro do júri.

Francisco Rebolo, “um mestre do meio-tom” segundo Sérgio Milliet, testemunhou um período de profundas transformações na paisagem urbana de São Paulo que, naquele momento, passava de província a metrópole. O processo de demolição de casas e construção de arranha-céus que hoje a cidade vivencia em ritmo acelerado, apenas se iniciava, e um modo de vida cada vez mais distanciado da natureza ia se configurando. No conjunto de pinturas apresentadas em “Viver a paisagem“, é possível observar o movimento inverso de Rebolo, que ia em direção ao campo, às montanhas e ao mar; um movimento que o permitiu compreender, durante quatro décadas, os aspectos daquelas paisagens através de sua prática pictórica. A busca do artista pela simplicidade da forma e por uma geometrização sutil se manifestou de maneiras diversas ao longo dos anos de produção, resultado de uma investigação plástica que incorporava soluções experimentadas em outras técnicas, como a xilogravura, por exemplo. A discreta paleta de cores da qual se utilizava e as cenas silenciosas compostas por árvores e casarios, revelam em Rebolo a visão otimista de uma relação harmônica com a natureza.

Agradecimentos: Sergio Rebollo, Lisbeth Rebollo Gonçalves, Antonio Gonçalves de Oliveira, Olívio Tavares de Araújo.

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