CLAUDIA JAGUARIBE | Quando eu vi a Flor do Asfalto




Claudia Jaguaribe: Quando eu vi a Flor do Asfalto

galeria marcelo guarnieri | são paulo

abertura
20 de agosto, 2022
10h-17h

período de visitação
20 de agosto – 24 de setembro, 2022



Alameda Lorena, 1835
São Paulo – Brasil
[ mapa ]


Claudia Jaguaribe: Quando eu vi a Flor do Asfalto

A relação entre a natureza e a humanidade é uma das questões mais importantes do século XXI. A incerteza do nosso futuro e os desafios para a nossa sobrevivência física e psíquica na Terra levantam questões ecológicas, sociais e artísticas que demandam uma urgência no seu tratar. O Brasil, país de dimensões continentais, possui características e estruturas de alto contraste que tornam tal situação ainda mais agravante. Se por um lado habitamos um território composto por grandes extensões de biomas preservados, por outro, testemunhamos o aceleramento de sua devastação.

Desde 2008 Claudia Jaguaribe vem abordando tais questões por meio de sua obra. A necessidade de expandir as possibilidades da linguagem fotográfica fez com que o trabalho ganhasse consistência ao longo de sua trajetória. Sua produção contempla assim uma diversidade de meios como a fotografia, a foto escultura, o vídeo e o livro. Na exposição “Quando eu vi a Flor do Asfalto”, que se realizará na Galeria Marcelo Guarnieri em São Paulo em agosto de 2022, serão exibidas as séries “Flor do Asfalto” (2020) e “Jardim Imaginário” (2019), além de “Asphalt Flower” (2022), livro inédito publicado pela editora francesa Éditions Bessard. O lançamento do livro ocorrerá durante a abertura da exposição. Também será apresentada uma seleção de fotografias de séries anteriores em que Jaguaribe explorou a ideia de emaranhamento entre natureza e cultura.

“Flor do Asfalto” (2022) revisita a ideia de paisagem como um jardim, um espaço de conexão entre homem e natureza onde é possível observar a dinâmica dos ciclos da vida (crescimento, floração e declínio) como um reflexo da sociedade que o molda. As imagens de flores sobrepostas que integram-se simbioticamente às formas asfálticas nos mostram uma superfície que encapsula a natureza desde os tempos bíblicos e que não pode mais ser separada dela. O trabalho possui o formato de uma frisa composta por partes que, unidas, formam uma única imagem. Nesta exposição será apresentado também “Asphalt Flower”, fotolivro publicado pela editora francesa Éditions Bessard que tem o formato leporello em alusão à obra.

“Jardim Imaginário” (2019) é uma série de fotografias constituídas por planos sobrepostos que produzem encontros entre flores exuberantes e paisagens urbanas. As imagens que formam a base real sobre a qual Jaguaribe cria o imaginário foram produzidas em reservas ambientais e jardins brasileiros emblemáticos, tais como o Parque Inhotim e o Sítio Roberto Burle Marx. As plantas tropicais sobrepostas são emolduradas ora por fotografias de fragmentos de construções arquitetônicas, ora por registros de devastações produzidas por queimadas, criando imagens que mostram a interseção e o diálogo inevitável entre uma visão idílica da nossa natureza e o testemunho das enormes mudanças que vem ocorrendo. As esculturas apresentadas na exposição também fazem parte desta pesquisa e introduzem, na fotografia, elementos escultóricos presentes nos jardins de Burle Marx, gerando assim um diálogo entre fotografia, paisagem e arquitetura que se realiza no campo tridimensional. Uma forma que ganha uma paisagem ou uma paisagem que ganha uma forma.

As outras obras que integram a exposição são, de alguma maneira, a gênese e origem desta pesquisa. “Quando eu vi” (2008) pode ser definida como uma paisagem em construção. As bibliotecas de Jaguaribe são obras icônicas deste período de sua produção que buscava por formas simbólicas de preservação de uma natureza então ainda intacta. A realização de “Pau Mulato”, uma das fotografias da série, marca o primeiro momento em que a abstração de uma forma vegetal levou à criação de peças escultóricas. Já “Aba katu” (2014) é um ensaio poético sobre a visão dos naturalistas viajantes do século XIX que tinham a flora e a fauna como objetos de um escrutínio “científico”.

A série “Confluência” (2019), leva a fotografia para o campo da abstração, dando seguimento a sua relação com a natureza através de uma investigação sobre as suas qualidades pictóricas. Nela, estão representados os rios Tocantins, Paraná, Solimões e Iguaçu que se mesclam, assumindo um novo corpo como num processo de metamorfose.

Na série “Jardim de Lina” (2018) há uma espécie de embate e complementaridade entre arquitetura e natureza.  Nas imagens, o jardim parece invadir a arquitetura modernista da Casa de Vidro, tornando difícil a distinção entre os limites do espaço interior e do exterior. A partir do desejo de tensionar ainda mais esses limites entre o dentro e o fora, entre a fotografia e a escultura, a artista intervém nas imagens com desenhos de círculos que remetem ao vocabulário da arquitetura modernista de Lina Bo Bardi que tinha nas formas da natureza uma fonte de inspiração.

“Quando eu vi a Flor do Asfalto” permitirá ao público revisitar a trajetória de Claudia Jaguaribe que há 30 anos dedica-se a produzir uma obra original e potente na qual a denúncia se faz não por uma abordagem jornalística, mas por um olhar artístico que nos reinsere na beleza misteriosa e complexa da vida e do mundo.  


CLAUDIA JAGUARIBE
1955 – Rio de Janeiro, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil

Formada em História da Arte, Artes Plásticas e Fotografia pela Boston University (EUA), Claudia Jaguaribe participa de exposições nos principais museus e galerias do Brasil e no exterior desde 1990. Através da fotografia, a artista busca expandir os limites da linguagem e de seus modos de exibição, explorando as potencialidades de mídias digitais e do formato livro. Jaguaribe desenvolve uma pesquisa que explora as ideias de perspectiva e ponto de vista como questões que guiam não apenas o seu processo criativo, como em Entrevistas, mas também o seu formato expositivo. Em No Jardim de Lina, exposição realizada na Casa de Vidro em 2018, a artista dispôs as fotografias que fez do jardim, impressas em superfícies translúcidas, à frente dos grandes vidros que separam o interior da casa e seu exterior, compondo uma cena de imagens sobrepostas. Suas imagens não buscam a verossimilhança – suas cores e ângulos podem ser manipulados por programas de edição, por exemplo – e podem ganhar movimento no vídeo ou se materializar em instalações.

Os trabalhos de Claudia Jaguaribe integram coleções de diversos museus e coleções privadas brasileiras e internacionais tais como: Museu de Arte de São Paulo – MASP, São Paulo; Museu de Arte Moderna, São Paulo; Inhotim, Brumadinho; Itaú Cultural, São Paulo; Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; Victoria and Albert Museum, Londres; Maison Européenne de la Photographie, Paris; Instituto Ítalo Latino Americano, Roma, entre outros. Tem quinze livros publicados e reconhecidos pela singularidade da integração fotográfica e projeto gráfico. Em 2013 co-fundou a Editora Madalena, especializada em fotolivros e em 2018 fundou a Editora Tuí.

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