ALICE SHINTANI | Mata À VENDA


ALICE SHINTANI | Mata À VENDA


galeria marcelo guarnieri | são paulo

abertura
18 de setembro, 2021
10h às 17h

período de visitação
18.09 – 16.10.2021


Alameda Lorena, 1835
São Paulo – Brasil
[ mapa ]


A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 18 de setembro e 16 de outubro de 2021, Mata À VENDA, proposição imersiva de Alice Shintani que surge como um desdobramento de Mata, série que integra a 34ª Bienal de São Paulo, Faz Escuro Mas Eu Canto.

Mata À VENDA é composta por dezessete pinturas em grande formato que atravessam as instalações físicas da galeria, entre quinas, portas e paredes. Metaforicamente, das dezessete obras propostas, nem todas são totalmente visíveis e, algumas, completamente invisíveis. Independentemente do tamanho ou visibilidade, todas as pinturas serão comercializadas pelo mesmo valor. Essa possibilidade faz das pinturas um instrumento de reflexão sobre os limites de nossa percepção estética e política no conhecido contexto de intensa mercantilização da linguagem pictórica.

“Mata trata-se de uma série produzida a partir de uma leitura livre de imagens da flora e fauna brasileira, sobretudo amazônica. A escolha de um sujeito pictórico clássico e a iconografia convidativa e plana parecem sugerir um trabalho autorreferenciado e pacificado, mas a maioria dos elementos explícita ou implicitamente retratados está em risco de extinção. O fundo intensamente negro, nesse sentido, contribui para ressaltar a luminosidade das cores empregadas pela artista para representar a vivacidade de algo, mas também pode ser lido como uma metáfora do estágio de incerteza e opacidade que caracteriza os dias atuais, de um ponto de vista ecológico, social e político”. Mata À VENDA propõe uma reflexão complementar, ética e econômica, sobre o atual estágio das relações entre espaços ditos comerciais e institucionais de arte, a autodeterminação de seus atores e as possibilidades de resiliência da prática artística.

Na antessala da galeria, Shintani apresenta um ambiente de escuridão com duas interferências: Perus, 31 de março (2019) é um vídeo em loop que captura uma cena de melancolia e ternura do dia 31 de março de 2019, no terreno de um cemitério que compõe um dos capítulos mais tenebrosos da nossa história. O áudio original captado na cena talvez nos recorde que, inaugurado em 1970, o Cemitério Municipal Dom Bosco foi utilizado como local de desova de corpos de vítimas da repressão da ditadura cívico-militar; em diálogo, um segundo pequeno vídeo, também em loop: Zika (2015), precursora da presente série Mata, é uma animação em gif de um dos exercícios em guache realizados a partir do entrecruzamento entre as leituras da artista sobre o Brasil de 2015 e as leituras de “Thought Forms” da escritora, teósofa e ativista Annie Besant. Em “Thought Forms”, livro de 1905 que teve grande influência sobre artistas como Kandinsky e Klee, Besant defende a ideia de que os pensamentos emitem vibrações dotados de cores e formas que podem ser apreendidos por meio de intensa consciência, meditação e atenção. Na antessala, por meio de sons, formas e cores em movimento, somos convidados a pensar sobre as possibilidades de percepção da passagem do tempo, das imagens e narrativas históricas, suas repetições e apagamentos em meio à atual onda de mercantilização da produção artística de explícita crítica social e política. Os dois vídeos da antessala seguem disponíveis gratuitamente nas redes sociais da artista, além de via QR code no local.

Alice Shintani opera na intersecção entre o fazer artístico e a vida cotidiana, por vezes questionando práticas naturalizadas nessa relação. Como observado em Faz Escuro Mas Eu Canto, “não se trata da arte que comenta as notícias dos jornais, nem da arte que se impõe no tecido urbano como monumento inerte, e sim a vivência próxima dos afetos e violência diários que têm como contraponto o fazer gradual que envolve cores, formas e luminosidades”.
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(1) Em Faz Escuro Mas Eu Canto, catálogo da 34a Bienal de São Paulo, página 324.


Alice Shintani
1971 – São Paulo, Brasil
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil

Alice Shintani desenvolve em seu trabalho exercícios de aproximação com o outro a partir da pintura e de seus desdobramentos. A pesquisa, motivada pelas possibilidades da experiência estética, explora a ideia da “pintura expandida” e se desenvolve em ações que vão desde o preenchimento total do espaço pela cor e pela luz, criando ambientes imersivos, até a proposição de refeições coletivas em que receitas, texturas, sabores, talheres, pratos e bandejas produzem significados e instigam camadas da percepção. Por meio da fricção entre questões formais, conceituais, sociais e mercadológicas, Shintani se debruça sobre as noções de visualidade e visibilidade de maneira a problematizá-las, quando se utiliza, por exemplo, de tons rebaixados de cor e formas abstratas para dar vida à pinturas que abordam narrativas de fantasmas, sombras e camuflagens, originárias da cultura japonesa; ou até mesmo quando infiltra em seus trabalhos elementos das comunidades de imigrantes no Brasil, invisibilizadas em sua maioria. A artista dialoga com a tradição da pintura e da história da arte, situando-as na experiência do presente e do espaço para além do circuito especializado.  

Alice Shintani foi incluída na publicação “100 Painters of Tomorrow” (Thames & Hudson, 2014) e contemplada com o prêmio-aquisição no “II Prêmio Itamaraty de Arte Contemporânea” (Brasília, 2013). Participou de diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se: Museu de Arte Contemporânea da USP, São Paulo, Brasil; Paço Imperial, Rio de Janeiro, Brasil; Centrum Sztuki Wspólczesnej, Poznán, Polônia; Centro Cultural São Paulo, Brasil; Instituto Itaú Cultural, São Paulo, Brasil; Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, Brasil; Museu Rodin, Salvador, Brasil; Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Brasil; Instituto Tomie Ohtake, São Paulo, Brasil; Instituto Figueiredo Ferraz, Ribeirão Preto, Brasil. Durante a edição da feira SP-Arte/2017, Alice Shintani recebeu como premiação uma temporada de três meses na Delfina Foundation (Londres). Recentemente, foi artista-visitante na Valand Akademie (Gotemburgo, 2017) e participou de programas de residência junto ao Curators Network / Hablar En Arte (Madrid, 2018) e no Complexo Psiquiátrico do Juqueri (Franco da Rocha, 2019). Atualmente, a artista é uma das convidadas que integram a 34ª Bienal de São Paulo – Faz Escuro Mas Eu Canto, 2021.

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