Ana Sario | Não estou mais onde existo nem onde penso



Ana Sario | Não estou mais onde existo nem onde penso


galeria marcelo guarnieri | são paulo

abertura
7 de outubro, 2023
11h-17h

período de visitação
7 de outubro – 11 de novembro, 2023



Alameda Franca, 1054
São Paulo – Brasil
[ mapa ]



A Galeria Marcelo Guarnieri tem o prazer de apresentar, entre 07 de outubro e 11 de novembro de 2023, “Não estou mais onde existo nem onde penso”, terceira exposição de Ana Sario (1984, São Paulo) em nosso endereço de São Paulo. A mostra reúne pinturas da série “Flores” produzidas entre os anos de 2019 e 2023 e dão continuidade à investigação da artista sobre o caráter transitório da paisagem. A exposição contará com texto da crítica e curadora Taisa Palhares.

Desde 2020, Ana Sario vem revisitando algumas paisagens de campos de flores que começou a produzir em 2016 e que agora, em suas pinturas mais recentes, ganham formalizações diferentes. Se antes a artista trabalhava com espessas camadas de tinta e campos de cor, levantando questões em torno da ideia de nitidez através da supressão dos detalhes das paisagens, agora ela aposta em pequenos e múltiplos pontos coloridos que buscam produzir um efeito de vastidão e profundidade. Sario explora o conceito de sobreposição tanto a partir da linguagem da pintura, utilizando-se da justaposição de camadas de pinceladas, como a partir do ciclo de floração das plantas que compõem suas paisagens transitórias, em constante transformação.

Em algumas dessas pinturas, as molduras também parecem querer se sobrepor à tela: invadindo o espaço da representação, aparentam bordas camufladas de flores. Não é a primeira vez que a artista se interessa pela condição da moldura em seu trabalho. Quando a tinta invade as laterais da tela, quando não há madeira ao seu redor ou quando a pintura recua na superfície quadrada, não ultrapassando os limites do que poderia ser uma espécie de moldura que ali não está. Em todos esses momentos há o questionamento sobre a pintura como uma janela do mundo.

Em “Não estou mais onde existo nem onde penso”, Ana Sario amplia as escalas, desenvolvendo sua investigação sobre as paisagens floridas também no grande formato, explorando o caráter imersivo e contemplativo dessas telas. “Trazer uma escala maior para o trabalho foi uma exigência da própria pesquisa, uma vontade de trazer novos pontos de vista para a paisagem, um desejo de ocupar esse espaço da pintura e contemplar a paisagem”, comenta Sario. A artista também apresenta uma produção inédita de pinturas sobre vidro, paisagens que se revelam não mais em contato direto com a textura, a cor e o cheiro da tinta, mas em seu avesso, através de uma superfície cristalina.




Ana Sario | Não estou mais onde existo nem onde penso
por Taisa Palhares

A raiz da paisagem foi cortada.
Tudo flutua ausente e dividido,
Tudo flutua sem nome e sem ruído.
Sophia de Mello Breyner Andresen

Tudo nasce de uma coleção de imagens-paisagens de campos de flores que a artista encontra em suas derivas virtuais. Como outros pintores de sua geração, Ana Sario não está interessada nas imagens fotográficas em si, mas nas composições que estas sugerem, e mais especificamente, no corpo que elas encarnam. Não há nessas pinturas uma discussão sobre a natureza da imagem técnica, ao contrário, a artista apropria-se de fotos relativamente banais para instaurar um novo espaço. Desta forma, um pequeno jardim ou campo de flores é transmutado em um lugar (real, imaginário?) onde o espectador pode habitar.

As pinturas de grandes dimensões envolvem nosso corpo com suas cores e materialidade, a ponto de perdemos qualquer tipo de referência se nos aproximamos demais. A tridimensionalidade espacial que caracteriza a experiência organizada do mundo é substituída pelo olhar tátil que experiencia a superfície como matéria viva, vibrante. Já nas telas menores, um efeito hachurado devolve às figuras sua substância corpórea, que no caso se confunde com a própria matéria pictórica. 

O que permanece da lembrança do mundo são as cores: os amarelos-ipês, os verdes dos arbustos e seu contraste com o azul luminoso do céu, as diminutas flores em pontos vermelhos, brancos, rosas, roxos e laranjas que germinam diante de nós. Mas o que parece de fato interessar Sario é a padronagem criada por esses elementos. De maneira muito sutil, a artista reenquadra as imagens quando trabalha as bordas da pintura com uma espécie de plano em segundo grau. Por exemplo, no díptico composto por um denso fundo de vegetação verde escura em contraste com flores vermelhas e brancas, ao tomar a devida distância, o espectador avista uma moldura que delimita a imagem central, estabelecendo um jogo de sobreposição em camadas que constitui a própria pintura. Essas camadas também são sugeridas por pinceladas e riscos quase imperceptíveis, que necessitam da posição de nosso corpo na medida exata.

Nesta nova série, desenvolvida durante a pandemia, a artista retoma uma marca importante de sua obra, que pelo menos desde os anos 2010 costuma explorar os limites entre a abstração e a figuração em grupos de paisagens urbanas e arquitetônicas construídas a partir do entrelaçamento de planos de cor bem marcados e do encaixe das variadas direções das pinceladas. Agora a estrutura também está presente, mas é tecida de forma mais delicada e engenhosa, quase como uma urdidura do mundo natural que a artista é capaz de revelar por meio da pintura. E assim, aquilo que parecia flutuar ou se esvair num caleidoscópio de sensações luminosas, reencontra seu lugar e seu nome.


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