EDU SIMÕES. CLICHÊ/RIO


EDU SIMÕES. CLICHÊ/RIO

galeria marcelo guarnieri | rio de janeiro

abertura
08.11.2017 / 18h – 21h

período de visitação
08.11 – 09.12.2017


Rua Teixeira de Melo, 31 – lojas C/D
Ipanema – Rio de Janeiro – Brasil
[ mapa ]


Clichê: Esse azul de noturno mar
por Diógenes Moura

A imagem do Cristo Redentor “visto” por trás de uma nuvem/neblina torna-se um quase símbolo para a série de imagens que Edu Simões reuniu para “exibir” como um álbum de memórias muito privada de uma cidade, o Rio de Janeiro, os seus dias, as suas glórias de “cidade maravilhosa”, os tênues limites que todo fotógrafo encontra justamente para não tornar clichê o que já é clichê: mar, pores de sol, contra planos, corpos em busca de uma perfeição que o tempo se encarregará de desfazer. Então a imagem do Cristo desaparecido nos força a olhar para dentro da cidade, num silêncio quase sagrado, numa busca cada vez mais à procura de um significado. Ali tão fluído e ao mesmo tempo quase imperceptível. O Redentor desaparecido.
Clichê seria um ensaio imagético e líquido se não fosse literatura, desde que o fotógrafo começou a percorrer pelos cantos da cidade, durante onze anos, os passos das palavras, da poesia, das crônicas, dos romances, da vida, da arte e da morte muito além da morte de Clarice, Cony, Drummond, Rubem, Machado, Millôr. Todos na primeira pessoa, todos com nome próprio. Não conheço destino mais cortante que esse: fotografar a palavra do outro. É quase um suicídio. Também poderá se tornar uma epifania. Como traduzir “eu” para uma imagem? Como traduzir “tu” para a imagem seguinte? Como tornar visível o fluxo que sopra em “quando digo eu quero dizer tu”? Como perceber a epiderme da cidade que encontra a pele e os músculos da palavra? Mais uma vez o fotógrafo caminha e vai descobrindo sua própria linguagem, a garganta das coisas.

Onze anos se passaram e o fotógrafo ali, vendo a ponte desaparecer em diagonal futurista entre homem, espaço, concreto, musgo e passagem numa busca perplexa pela arquitetura. O roteiro geográfico que se repete e repete e repete interior e exteriormente. Por que queremos que os outros vejam o que a gente viu? Não basta ver, cada um do seu jeito? Aqui não. Nada sossega a fotografia que busca a palavra. Não há descanso na voz interior do fotógrafo quando ele se depara com o elefante que é como a página de uma missiva com rumo certo. Quando a borboleta amarela sobrevoa o passado é como literatura. A representação de cavalos rompantes é como literatura. Os bustos clássicos decadentes são como literatura. Estar num lugar à beira do tempo e tão exclusivamente poderá se tornar uma fotografia. Mesmo assim, não é a imagem que traduz a palavra. Edu Simões e os dois lados da luz diagonal. O fotógrafo ao meio. Como Clarice, a atração pelo instante. O feminino incontido. O sujeito estarrecido. Esse modo “torto” de olhar o mundo. Ela aqui. Ele aqui. O clichê desaparecido: o Redentor paira sobre a cidade. O clichê isolado pela lente. Sim, poderá ser a imagem que traduz a palavra. Tudo contamina.


Edu Simões, 1956.
Vive e trabalha em São Paulo, Brasil

Desde meados dos anos 1970 até o fim dos anos 1990, Edu Simões fotografou grandes nomes da cena política, cultural e artística brasileira, quando editor de fotografia de revistas como Bravo, República e fotógrafo dos Cadernos da Literatura Brasileira do Instituto Moreira Salles. Ainda no período de 1970-80, teve uma forte atuação no campo das hard news, fotografando os movimentos populares que desaguaram no fim da ditadura militar, sobretudo as greves do ABC e de São Paulo, ganhando em 1981, o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. A partir dos anos 2000, Simões assume um trabalho mais independente e autoral, que embora se distancie dos preceitos do fotojornalismo, ainda guarda algumas de suas marcas. O retrato é uma frequente em suas fotografias, agora menos interessado por figuras de grande prestígio e muito mais por aqueles que de alguma forma ocupam posições marginalizadas numa escala local e global: habitantes da floresta Amazônica, de zonas rurais de Angola, de comunidades periféricas como a Rocinha ou de Iepê, um pequeníssimo município do interior de São Paulo. Seus corpos, no entanto, não aparecem como corpos anônimos, pertencem a sujeitos identificados por seus nomes, por vezes sobrenomes e até mesmo pelos seus sonhos. Quando fotografa paisagens, plantas, troncos ou raízes, arquiteturas, animais ou suas representações, Simões parece dar-lhes importância parecida, explorando o vigor, a monumentalidade e a subjetividade dessas entidades.

Coleções que possuem seus trabalhos: Coleção Pirelli/MASP, São Paulo; MAM-São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu da Imagem e do Som, São Paulo; Centro de La Imagem de México e Maison Europeéenne de la Photographie, França

EDU SIMÕES. CLICHÊ/RIO

galeria marcelo guarnieri | rio de janeiro

opening
November 08, 2017 / 6 – 9pm

exhibition
November 08 – December 09, 2017


Rua Teixeira de Melo, 31 – lojas C/D
Ipanema – Rio de Janeiro – Brasil
[ map ]


Clichê: Esse azul de noturno mar
por Diógenes Moura

The Christ the Redeemer’s image “seen” from behind a cloud / mist becomes an almost symbol of the series of images that Edu Simões brought together to “display” as a very private memory album of a city, Rio de Janeiro, its days, its glories of “wonderful city”, the tenuous limits that every photographer finds precisely not to make cliché what already it is a cliché: sea, sunsets, against planes, bodies in search of a perfection that time is will manage to undo. Then the image of the missing Christ forces us to look into the city, in an almost sacred silence, in an increasingly search for a meaning. There, so fluid and at the same time almost imperceptible. The disappeared Redeemer.
Cliché would be an imaginary and liquid essay if it was not for literature, since the photographer began to walk through the city for eleven years, the steps of words, poetry, chronicles, novels, life, art and death far beyond the death of Clarice, Cony, Drummond, Rubem, Machado, Millôr. Everyone in the first person, all with their own names. I know no fate more sharply than this: to photograph the other’s word. It’s almost suicide. It can also become an epiphany. How to translate “I” into an image? How to translate “you” to the next image? How to make visible the flow that blows in “when I say me in fact I mean you”? How to perceive the epidermis of the city that finds the skin and the muscles of the word? Once again the photographer walks and discovers his own language, the throat of things.

Eleven years passed and the photographer there, seeing the bridge disappear in a futuristic diagonal between man, space, concrete, moss and passage in a perplexed search for architecture. The geographical itinerary that repeats and repeats and repeats inwardly and outwardly. Why do we want others to see what we have seen? Isn’t it enough to see, each one your way? Not here. Nothing rests the photograph that seeks the word. There is no rest in the photographer’s inner voice when he stumbles upon the elephant that is like the page of a certain-headed missive. When the yellow butterfly flies over the past it is like literature. The decadent classic busts are like literature. The decadent classic busts are like literature. Being in a place on the edge of time and so exclusively can become a photograph. Even so, it is not the image that translates the word. Edu Simões and the two sides of the diagonal light. The photographer in the middle. Like Clarice, the attraction for the moment. The uncontained feminine. The terrified fellow. This distorted way of looking at the world. She is here. He is here. The cliché disappeared: the Redeemer hangs over the city. The cliché isolated by the lens. Yes, it could be the image that translates the word. Everything contaminates.


Edu Simões, 1956.
Lives and works in São Paulo, Brazil

From the mid-1970s to the end of the 1990s, Edu Simões photographed great names in the Brazilian political, cultural and artistic scene, as a photo editor of magazines such as Bravo, Republica and photographer of the Cadernos da Literatura Brasileira, Instituto Moreira Salles. Still in the period of 1970-80, he had a strong performance in the field of hard news, photographing the popular movements that took place at the end of the military dictatorship in Brazil, mainly the strikes of ABC and São Paulo, winning in 1981 the Vladimir Herzog Human Rights Prize. From the 2000s, Simões assumes a more independent and authorial work, which, although distant from the precepts of photojournalism, still holds some of its marks. The portrait is a frequent one in his photographs, now less interested in figures of great prestige and much more by those who somehow occupy marginalized positions on a local and global scale: inhabitants of the Amazon rainforest, rural areas of Angola, peripheral communities such as Rocinha or Iepê, a very small municipality in the interior of São Paulo. Their bodies, however, do not appear as anonymous bodies, belong to subjects identified by their names, sometimes surnames and even by their dreams. When photographing landscapes, plants, trunks or roots, architectures, animals or their representations, Simões seems to give them similar importance, exploring the vigor, monumentality and subjectivity of these entities.

Collections holding his works include: Centro de La Imagem de México; Maison Europeéenne de la Photographie, France; Pirelli Collection/MASP, São Paulo; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu da Imagem e do Som, São Paulo.

gmc_aliceshintaniEDU SIMÕES. CLICHÊ/RIO