galeria marcelo guarnieri | ribeirão preto
abertura
16.maio.2015 / 15h – 19h
período de visitação
16.maio – 26.junho.2015
A ‘estrutura quadro’, conceito criado por Marcus Vinícius, e que conduz sua produção, passa por uma nova revisão apresentada na exposição ‘Agrupamentos Horizontais e Acidados’. O conceito se organiza de forma aparentemente simples, o artista elencou os elementos presentes dentro do que se configuraria como quadro (vidro, madeira, cor, …), que podem ser usados em conjunto, ou separadamente na construção de suas obras, desde que seja mantida sua configuração espacial elementar: ser bidimensional, e estar ligado à parede. A partir desse princípio, novos elementos e materiais podem integrar os trabalhos, com a condição de responderem a esses pressupostos.
Essa nova revisão parte justamente da descoberta de novos materiais e possibilidades que surgiram pontualmente em trabalhos anteriores, e que agora são explorados em potência máxima pelo artista. Nos ‘Acidados’, por exemplo, toda a composição pictórica acontece por acidulações no vidro, pequenas intervenções de vinil adesivo colorido, e a estrutura de alumínio. A construção espacial se dá pelo brilho, ou não brilho, da acidulação no vidro, talvez por isso, esses sejam os trabalhos de menos espessura do artista, toda a discussão de espaço é superficial, sua profundidade é virtual, como em uma superfície de água, com alguns elementos flutuando lentamente sobre ela.
Essa noção de movimento dos ‘Acidados’ se revela mais claramente agora na produção de Marcus. Em outros trabalhos, tudo parecia extremamente encaixado e estrategicamente estático, dentro do retângulo que continha todos os elementos e informações. Esse movimento certamente é potencializado com a apresentação desses trabalhos associados aos ‘Agrupamentos Horizontais’, série inédita do artista.
Os ‘Agrupamentos Horizontais’ surgem também como desdobramento de trabalhos anteriores, onde Marcus começou a empregar em suas pinturas o alumínio como meio estruturante. Agora, esse material aparece muitas vezes puro, sem nenhuma cobertura de tinta, assumindo função estética. A própria superfície do alumínio ressalta a noção de velocidade, ranhuras horizontais brilham de acordo com a luz, e acabam por guiar nosso olhar horizontalmente.
É claro que essa noção de velocidade não se dá apenas pelo material empregado, o artista usa de outras estratégias para ressaltar esse elemento, como por exemplo, em um dos trabalhos, uma escala de cinco cubos que vai do preto ao branco se coloca na ponta, como se a cor tivesse se rasgado e expandido, se diluindo até o branco. É como se em um dos experimentos fotográficos de velocidade e movimento de Eadweard Muybridge, víssemos o cubo preto correr, e sua cor se diluísse de acordo com o tempo de fixação do registro fotográfico. Mas a grande questão que se coloca, ainda vinculada a velocidade, é o alcance espacial do trabalho, os ‘Agrupamentos Horizontais’ se expandem, como em uma explosão da ‘Estrutura Quadro’. Se anteriormente esse conceito parecia dar certa integridade formal ao trabalho do artista, tudo se apresentava e acontecia dentro de um quadro/caixa, um retângulo ou quadrado, ou no máximo, anexo a essas formas fechadas, como uma aba de vidro que se desprende da estrutura. Os novos trabalhos alargam essa noção.
A primeira vista, pode parecer que escapam da série de regras da ‘Estrutura Quadro’. Em muitos deles, o que anteriormente seria a forma do trabalho do artista, o retângulo ou o quadrado, é um grande vazado, tudo acontece ao seu entorno. Mas ainda assim, esse entorno é a moldura, parte integrante dos elementos elencados no conceito do artista.
Quanto aos materiais e procedimentos, estão todos ali, composição cromática e encaixe de formas ainda estão nos trabalhos. Os elementos se agrupam e se separam horizontalmente, como se os trabalhos anteriores se rasgassem em frente aos nossos olhos, em um procedimento de destrinchar as regras e elementos que os compõe. Talvez mais do que nunca, o que importa agora é o espaço entre, as pequenas frestas de cor entre outras cores, meios tons formados virtualmente pelos reflexos do alumínio e do vidro, e os vazados, que convertem o espaço da galeria em espaço da obra.
Douglas de Freitas | Maio de 2015