GUTO LACAZ – art lab
galeria marcelo guarnieri | são paulo
abertura
09.06.2018 / 11h – 16h
período de visitação
09.06 – 21.07.2018
Alameda Lorena, 1835
São Paulo – Brasil
[ mapa ]
Distribuídos em um quadrado de setenta centímetros, vinte e quatro ponteiros vermelhos giram sem parar. Em outro quadrado de setenta centímetros, giram em tic tac outros vinte e quatro também ponteiros, também vermelhos. São os Relógios para perder a hora de Guto Lacaz, dois dos trabalhos que integram a exposição art lab, na Galeria Marcelo Guarnieri em São Paulo. As duas peças formam uma imagem clara do que se apresenta na mostra: objetos animados cumprindo funções absurdas, hipnóticas e humoradas que te convidam para uma dança sem hora pra acabar. O tempo nesta exposição seria algo semelhante ao tempo das crianças, um tempo tomado completamente pela brincadeira, em que a repetição e o delírio se fazem necessários no processo de aprendizagem.
Neste caso, uma desaprendizagem, pois aqui adentramos o universo dos objetos que deixaram de ser servos de seu próprio destino: a funcionalidade. Lacaz constrói com tais objetos uma relação tão íntima, que parece ouvir deles os seus desejos mais sórdidos, então retorce os seus sentidos e os liberta da chatice de serem úteis. Em alguns casos o artista vai além, dissecando suas objetidades de tal modo que acabam reduzidos a engrenagens de formas e cores e assim viram coisas: coisas ópticas, cinéticas, elétricas, lunáticas.
É o caso de Dauquad cinético, uma espécie de carrossel manipulável formado por quadrados de acrílico coloridos e de superfícies espelhadas que se refletem e projetam cores em diversos ângulos. Ou de Bossa Nova, um conjunto de peças quadradas e brancas que formam um painel também quadrado de dois metros e meio em lento e constante movimento, semelhante ao das ondas do mar. Os títulos dos trabalhos de Lacaz também são algo para se ter em conta, às vezes surgem como contraponto ao que se vê nas obras, às vezes funcionam como chaves de acesso.
Tudo o que for produto da criação humana, seja na ciência, na indústria ou na arte, pode virar assunto, em uma abordagem menos celebrativa e talvez mais crítica, certamente bem humorada. Há uma descrença não só pela ideia de progresso científico, mas também pelos grandes símbolos e certezas inventadas pela humanidade. Desse modo, Guto Lacaz convoca em alguns de seus trabalhos elementos clássicos das obras de figuras como Marcel Duchamp e Nam June Paik e os apresenta em novas situações, dando a eles o poder de performar a sua própria existência.
Paik Line, trabalho inédito, é constituído por uma torre de televisores modificados. A peça faz referência a Zen for TV, obra de 1963 do artista Nam June Paik, na qual reduz a imagem da tela a um feixe de luz, privando a televisão de sua própria forma e função. O desenho gerado pela linha que atravessa uma extremidade à outra do visor e a posição vertical do aparelho remetem a uma estrutura totêmica, reforçando o caráter contemplativo e imersivo da TV, agora de um jeito anormal. A partir daí Lacaz exagera e multiplica essa ação por seis, construindo um grande totem de mais de dois metros.
Em art lab tudo se movimenta e ainda que em curto-circuito, nos movimentamos também. A exposição é a primeira individual de Guto Lacaz na unidade São Paulo da Galeria Marcelo Guarnieri e marca os 40 anos de produção do artista. “Pra mim arte é energia. Importante distinguir arte de obra de arte. Arte é o que está entre a obra de arte e o espectador, algo meio fluido, um plasma. É isso que eu acho que é energia, quando você passa por uma obra de arte e essa obra te capta, é pura energia o que está acontecendo entre você e a obra de arte.”, conclui Guto.
Guto Lacaz
1948 – Vive e trabalha em São Paulo, Brasil
Artista multimídia, arquiteto, designer e cenógrafo, Guto Lacaz vem investigando, desde fins dos anos 70, as possibilidades da arte, da ciência e da tecnologia a partir de uma aproximação com os objetos de uso cotidiano. Bem humoradas e às vezes absurdas, suas obras buscam desestabilizar comportamentos e leituras automáticas comuns em nossa interação com a materialidade e a espacialidade. Sempre interessado na relação com o espectador, desenvolve seu trabalho em desenhos, objetos, performances, ilustrações, livros, instalações e intervenções em espaços públicos. Guto inventa um mundo torto e maravilhoso onde um batalhão de aspiradores de pó mantém bolas de isopor suspensas no ar e onde cadeiras enfileiradas de um auditório vazio flutuam silenciosas sobre as águas de um lago. Em 2017 ganhou o prêmio APCA na categoria “Fronteiras da Arquitetura”.
Membro da Alliance Graphic Internationalle – AGI. Formado em arquitetura pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São José dos Campos em 1974. Em 1995 ganha a bolsa Gugenheim.
Entre suas principais exposições individuais, intervenções urbanas e obras públicas, destacam-se: As Quatro Revoluções Industriais – 15 painéis na Av Paulista (2018); Adoraroda. Largo da Batata, Mostra 3M de Arte, São Paulo (2017); Ondas d’água. Sesc Belenzinho, São Paulo (2011); Eletro Livros. Maria Antonia USP, São Paulo (2012); Maquetes Reunidas. Capela do Morumbi – DPH, São Paulo (2008); Garoa Modernista e Pinacotrens. Octógono, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005); Recortes. Paço Imperial do Rio de Janeiro (1994); Periscópio. Arte Cidade II, São Paulo (1994); Auditório para Questões Delicadas – Lago do Ibirapuera, São Paulo (1989).
Entre suas principais exposições coletivas, destacam-se: YOYO, tudo que vai volta. SESC Belenzinho, São Paulo (2018); Situações: a Instalação no Acervo da Pinacoteca do Estado, São Paulo (2017); As Margens dos Mares. SESC Pinheiros, São Paulo (2015); Invento | As Revoluções que nos Inventaram. Pavilhão da Oca – Parque Ibirapuera, São Paulo (2015); Diálogos com Palatnik. MAM-SP (2014); III Bienal da Bahia (2014); Trajetória da Luz na Arte Brasileira. Itaú Cultural, São Paulo (2001); 95 Gwangju Biennale, Coreia do Sul (1995); Brazil Projects, PS1 New York (1988); Modernidade – Arte Brasileira no século XX. MAM-SP (1988); A Trama do Gosto – Um Outro Olhar sobre o Cotidiano. Fundação Bienal, São Paulo (1987); 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985); Primeira Mostra do Móvel e do Objeto Inusitado. MIS, São Paulo (1978)
fotos: Edson Kumasaka
GUTO LACAZ – art lab
galeria marcelo guarnieri | são paulo
opening
June 09, 2018 / 11am – 4pm
exhibition
June 09 – July 21, 2018
Alameda Lorena, 1835
São Paulo – Brasil
[ map ]
Distributed on a seventy centimeters square, twenty-four red pointers rotate nonstop. In another seventy centimeters square, twenty-four other pointers, also red, turn in tic tac. Those are Guto Lacaz’s Clocks to lose track of time, two of the works that are part of the art lab exhibition, at Galeria Marcelo Guarnieri in São Paulo. The two pieces well depict what is presented in the show: animated objects fulfilling absurd, hypnotic and humorous functions that invite you to a dance with no time to end. The time, in this show, would be somewhat like time for kids, a time taken completely by joke, in which repetition and delirium are necessary in the learning process.
In this case, an unlearning, for here we enter the universe of objects that ceased to be servants of their own destiny: functionality. Lacaz builds with those objects such an intimate relationship that he seems to listen from these objects their sordid desires, then he twists their senses and set them free from the boredom of being useful. In some cases the artist goes further, dissecting his objects in such a way that they end up reduced to gears of shapes and colors and so they become things: optical, kinetic, electric, lunatic.
This is the case of kinetic Dauquad, a sort of manipulable carousel made up with colored acrylic squares and mirrored surfaces that reflect themselves and project colors from various angles. Or Bossa Nova, a set of white squared pieces which form a panel, also squared, with two and a half meters in slow and constant movement, similar to the waves of the ocean. Lacaz’s titles for his works should also be taken into account, sometimes they appear as a counterpoint to what you see in the works, sometimes they function as keys to access them.
Whatever is product of human creation, whether in science, industry, or art, can become a subject, in a less celebratory and perhaps more critical, certainly humorous approach. There is a disbelief not only regarding the idea of scientific progress, but also concerning the great symbols and certainties invented by humanity. In this way, Guto Lacaz summons, in some of his works, classic elements from works of figures such as Marcel Duchamp and Nam June Paik, and shows them in new situations, giving them the power to perform their own existence.
Paik Line, unpublished work, consists of a tower of modified televisions. The piece refers to Zen for TV, a 1963 work by the artist Nam June Paik, in which he reduces the image of the screen to a beam light, depriving the television of its own form and function. The drawing generated by the line that crosses the display from one end to the other and the vertical position of the device refer to a totem structure, reinforcing the contemplative and immersive character of the TV, now in an abnormal way. From there Lacaz exaggerates and multiplies this action by six, constructing a great totem of more than two meters.
In art lab everything moves and, although in short circuit, we move too. The exhibition is the first solo show by Guto Lacaz at the São Paulo unit of Galeria Marcelo Guarnieri and celebrates the 40th anniversary of the artist’s production. “For me art is energy. Important to distinguish art from artwork. Art is what is between the work of art and the spectator, something kind of fluid, a plasma. This is what I think is energy, when you go through a work of art and this work captures you, it is pure energy what is happening between you and the work of art “, concludes Guto.
Guto Lacaz
1948 – Lives and works in São Paulo, Brazil
Multimedia artist, architect, designer and scenographer, Guto Lacaz has been investigating, since the late 1970s, the possibilities of art, science and technology from the proximity to objects of everyday use. Humorous and sometimes absurd, his works seek to destabilize behaviors and automatic readings found in our interaction with materiality and spatiality. Always interested in the relationship with the spectator, he develops his work in drawings, objects, performances, illustrations, books, installations and interventions in public spaces. Guto invents a crooked and wonderful world where a battalion of vacuum cleaners keeps styrofoam balls suspended in the air and where lined up chairs silently float on a lake. In 2017 he won the APCA award in the category “Frontiers of Architecture”.
Member of Alliance Graphic Internationalle – AGI. Graduated in architecture from the Faculty of Architecture and Urbanism of São José dos Campos in 1974. In 1995 he won the Gugenheim scholarship.
Among his main solo exhibitions, urban interventions and public works, stand out: As Quatro Revoluções Industriais – 15 panels in Av. Paulista (2018); Adoraroda. Largo da Batata, Mostra 3M de Arte, São Paulo (2017); Ondas d’água. Sesc Belenzinho, São Paulo (2011); Eletro Livros. Maria Antonia USP, São Paulo (2012); Maquetes Reunidas. Capela do Morumbi – DPH, São Paulo (2008); Garoa Modernista e Pinacotrens. Octógono, Pinacoteca do Estado de São Paulo (2005); Recortes. Paço Imperial do Rio de Janeiro (1994); Periscópio. Arte Cidade II, São Paulo (1994); Auditório para Questões Delicadas – Lago do Ibirapuera, São Paulo (1989).
Among his main collective exhibitions, stand out: YOYO, tudo que vai volta. SESC Belenzinho, São Paulo (2018); Situações: a Instalação no Acervo da Pinacoteca do Estado, São Paulo (2017); As Margens dos Mares. SESC Pinheiros, São Paulo (2015); Invento | As Revoluções que nos Inventaram. Pavilhão da Oca – Parque Ibirapuera, São Paulo (2015); Diálogos com Palatnik. MAM-SP (2014); III Bienal da Bahia (2014); Trajetória da Luz na Arte Brasileira. Itaú Cultural, São Paulo (2001); 95 Gwangju Biennale, Coreia do Sul (1995); Brazil Projects, PS1 New York (1988); Modernidade – Arte Brasileira no século XX. MAM-SP (1988); A Trama do Gosto – Um Outro Olhar sobre o Cotidiano. Fundação Bienal, São Paulo (1987); 18ª Bienal Internacional de São Paulo (1985); Primeira Mostra do Móvel e do Objeto Inusitado. MIS, São Paulo (1978)
photos: Edson Kumasaka